Narrativa : História que pode ser real
Beatriz Fernandes é o meu nome, nasci há 80 anos, vivi toda a minha vida numa pequena freguesia rural, com raízes numa família pobre trabalhei desde cedo no campo, com chuva ou sol, não fui à escola, a minha mãe ensinou-me a trabalhar no campo e a ser uma boa dona de casa, e ainda ajudei a educar os meus irmãos. Tive uma infância dura de muito trabalho, cresci a ver os meus pais trabalhar, depois cresci e casei, o meu marido foi um bom homem, tivemos três filhos, a vida melhorou, o meu marido trabalhava nas pedreiras. Infelizmente fiquei viúva, já os filhos estavam criados e a trabalhar, enquanto estive em minha casa tudo corria bem, vi crescer os netos, mas um dia a doença chegou e incapacitou-me, perdi alguns movimentos, mas felizmente a minha memória contínua boa.
Com as dificuldades que se apresentaram, foi necessário encontrar uma alternativa, pois já não podia estar sozinha em minha casa, então começaram as dificuldades.
Os meus filhos unirão esforços para encontrar a melhor solução, ao início pensamos no apoio domiciliário, que foi uma boa alternativa, as funcionárias vinham a minha casa, ajudavam-me na higiene, e também traziam a alimentação. Mas com o passar dos dias a solidão e depressão por tão sozinha e incapacitada surgiu, deixei de ver a vizinhas que a pouco e pouco deixaram de me visitar, e os filhos e netos apareciam todos os dias, mas sempre com pouca disponibilidade. E novamente os meus filhos precisaram encontram outra solução.
Desta vez foi mais difícil, pois recusava-me a sair da minha casa, a primeira opção seria estar umas semanas em casa de um dos meus filhos e ir trocando a cada mês, mas mesmo assim continuavam a ficar sozinha ao longo do dia. Fui ficando cada vez com mais dificuldade em andar, passando mesmo a estar sentada todo o dia, aumentaram as despesas com fraldas e medicação. Uma das minhas filhas ainda sugeriu pedir uma licença no trabalho para ficar a cuidar de mim, mas eu recusei, não me parece justo que deixe de realizar as suas tarefas e deixe de receber o seu salário, pois no pais em que vivo os filhos que decidam cuidar dos seus pais não tem qualquer tipo de apoio monetário.
Após longas semanas de angústia surgiu a proposta de passar o dia numa instituição, um centro de dia. Esta valência é a única que existe na minha freguesia, no entanto presta um grande apoio aos idosos que como eu necessitam de um apoio mais constante.
Neste espaço encontrei uma nova forma de passar os meus dias, aqui já não estou sozinha, mas preferia estar em minha casa, nesse sentido parece-me que o apoio é insuficiente para os idosos dependentes que ainda querem ficar em suas casas, e também para aqueles que querem tomar a opção se ser cuidadores dos próprios familiares. Aqui tenho o apoio que necessito, realizo atividades com os técnicos que nos visitam quase todos os dias, o tempo passa mais rápido, mas tenho de comer à hora marcada, acordo sempre cedo pois tenho de cumprir os horários em que me vão buscar a casa, o banho tem dias marcados e quase hora certa, nem sempre consigo ver o meu programa de televisão favorito, e nem sempre a minha vontade é respeitada.
No entanto devo salientar que a instituição que presta serviços no meu concelho, realiza um trabalho meritório, com os seus lares centros de dia, universidade sénior, centro comunitário e infantário.
Ainda assim é necessário que as politicas sociais que apoiam os idosos e as suas familias sejam repensadas e reformuladas, sob pena do aumento da discriminação e de atitudes idadista para com os nossos idosos