Representações Sociais da Velhice e do Envelhecimento: O Idadismo
O Idadismo pode ser definido como as atitudes negativas face a pessoas, baseadas apenas na sua idade.
De acordo com Marques (2011:17), o termo idadismo surgiu em 1969 pelo psicólogo Robert Bulter, ao analisar “as reações negativas de uma comunidade à construção de um empreendimento imobiliário para pessoas idosas”.
Butler (1969; cit. in Magalhães et al, 2010), definiu idadismo “como um processo de “estereótipos e discriminação sistemática contra as pessoas por elas serem idosas, da mesma forma que o racismo e o sexismo o fazem com a cor da pele e o género”.
O idadismo traduz um preconceito ou uma forma de discriminação, contra ou a favor de um grupo etário. A discriminação pode ocorrer de uma forma pessoal por indivíduos ou institucional, traduzido pela discriminação para com os idosos, resultante da política de uma instituição ou organização. (Palmore, 1999, cit. in Magalhães et al, 2010).
Já o preconceito assume-se contra esse grupo quando é manifestado por um estereótipo negativo, ou por uma atitude negativa. A discriminação contra esse grupo manifesta-se através de um tratamento negativo para com os membros do mesmo. Os estereótipos são essencialmente cognitivos, enquanto as atitudes são essencialmente afetivas.
De acordo com Palmore (1999; cit. in Magalhães et al, 2010), existem nove estereótipos que demonstram o preconceito negativo para com as pessoas idosas, são eles: “a doença, a impotência sexual, a fealdade, o declínio mental, a doença mental, a inutilidade, o isolamento, a pobreza e a depressão”.
O mesmo autor salienta ainda que os preconceitos, são usualmente traduzidos em discriminação, que ocorre essencialmente: no emprego, na família, habitação (em especial, nas residências para idosos) e ao nível dos cuidados de saúde. “São oito os principais estereótipos positivos a ele associado: a amabilidade, a sabedoria, o ser de confiança, a opulência, o poder político, a liberdade, a eterna juventude e a felicidade”. (Palmore 1999; cit. in Magalhães et al, 2010)
Para o autor, as principais consequências que podem resultar do idadismo são a discriminação no emprego refletindo-se na” recusa de contratação e promoção dos trabalhadores mais velhos, em prole da aceitação preferencial e promoção dos trabalhadores mais jovens.
O IDADISMO EM PORTUGAL
Em Portugal o Idadismo é já considerado como um problema, de acordo com os resultados do Eurobarómetro Discrimination in EU in 2009, 53% dos portugueses consideram que a discriminação pela idade é muito frequente e 57% considera que é mais frequente do que há cinco anos. (Marques, 2011:19).
Referenciando este mesmo estudo, em Portugal a discriminação pela idade é a mais sentida (17%) apresentado valores superiores à discriminação pelo género (13%) ou etnia (11%). Esta forma de discriminação atinge sobretudo as pessoas mais velhas, 20,8% dos indivíduos entre os 65 e os 79 anos e 31,6% com mais de 80 anos.
De acordo com os dados do European Social Survey 15,9% dos das pessoas entre o 65-79 anos e de 31,6% com mais de 80 anos, afirma já ter sido vítima de maus tratos, insultos, abusos, e recusados em determinados serviços devido à sua idade.
Dados alarmantes, que refletem que a sociedade portuguesa se encontra em conflito com a realidade do envelhecimento da população. Marques (2011) salienta ainda que o idadismo encontra-se presente em muitas atitudes, até naquelas que por vezes consideramos como bem-intencionadas, é o caso da ajuda excessiva bem como a sobreproteção, que pode levar à promoção da incapacidade e dependência.
No âmbito do trabalho o idadismo é identificado com facilidade nos processos de recrutamento, através da imposição de limites de idade como parte do perfil exigido para os cargos (Peres, 2003; cit in Vicente, 2011). Podemos confirmar esta realidade identificada por Peres em 2003, ao efetuar uma pequena pesquisa em jornais, sites de internet ou mesmo juntos dos centros de emprego e formação profissional, onde na grande parte das vezes a idade pretendida faz parte dos requisitos exigidos.
Ainda assim a população envelhecida ativa tem vindo aumentar, devido a diminuição da natalidade, o prolongamento da escolaridade, a diminuição das medidas de reforma antecipada, e o adiamento da idade de reforma (Ramos & Lacomblez, 2005; cit in Vicente, 2011).
Por outro lado, para aqueles que continuam a trabalhar, a evolução do mercado de trabalho não trouxe vantagens, uma vez que o “volume de trabalho se revela cada vez mais intenso, os horários de trabalho são cada vez mais irregulares e, por outro lado, o desenvolvimento de competências e ações de formação existentes não compensam as necessidades sentidas por estes trabalhadores”. (Moliné, 2003; cit in Ramos & Lacomblez, 2005; cit in Vicente2011).
Analisando estra problemática por outra vertente, nomeadamente junto daqueles que por perderam faculdades devido ao envelhecimento e aos problemas de saúde, e enfrentam a realidade da incapacidade e da dependência, acabam por ser um alvo muito fácil deste tipo de discriminação.
Montorio, Trocóniz, Colodrón & Losada realizaram um estudo em 2002, onde verificaram uma relação significativa entre os estereótipos dos cuidadores acerca das pessoas idosas e as suas atribuições para com o familiar de idade avançada que cuidam. (Magalhães et al, 2010).
O estudo em causa apresenta o afeto negativo tolerável como o mais recorrente, verificando uma identificação dos idosos como, “débeis e incapazes de se auto-valerem, e frequentemente percecionam estes mesmos termos acerca do idoso que cuidam”.
A imagem social da população mais velha têm vindo a alterar-se, rotulando os mais velhos de doentes, incapazes e incompetentes. É urgente uma alteração ideológica sobre estas ideias que discriminam um grupo significativo da população.
Esta mudança é fundamental de modo a garantir o sucesso das medidas políticas que promovem o envelhecimento ativo. Na realidade a discriminação pela idade é legalmente punível, contudo centra-se principalmente nas relações laborais, sendo ainda muito permissiva no campo social.
O combate à discriminação contra as pessoas mais velhas, só pode ser conseguido com um esforço conjunto, na mudança das ideologias e políticas, em prol de um trabalho comum que na valorize e proteja os mais velhos.
Bibliografia:
Magalhães, C. Fernandes, A. Antão, C. Anes, E. (2010) Repercussão dos Estereótipos sobre as Pessoas Idosas. Revista Transdisciplinar de Gerontologia, Biblioteca Digital IPB, acedida a 15/12/2013 em https://bibliotecadigital.ipb.pt/handle/10198/2606
Marques, S. (2011). Discriminação da Terceira Idade. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Vicente, D. (2012) “A idade como um limite ao trabalho: idadismo dos recrutadores na triagem curricular – Simulação em contexto real”. Dissertação de Mestrado em Psicologia Social e das Organizações. Lisboa: ISCTE-IUL, acedido a 10/12/2013 em https://repositorio.iscte.pt/handle/10071/4564